Mercedes e Red Bull têm estado em grande «stress» desde Dezembro e neste início de ano, pela necessidade de última hora de reverem com maior ou menos profundidade todos os planos da suspensão dianteira dos seus carros para 2017. Trabalho mais fácil na Mercedes mas muito mais radical na Red Bull, a implicar fazer nova suspensão frontal e até a olhar para todo o conceito do RB13!
Em causa um pedido de esclarecimento feito à FIA pelo responsável técnico da Ferrari, Mattia Binotto – um procedimento perfeitamente normal entre as equipas, para clarificarem os limites regulamentares em que se podem mover –, a que Charlie Whiting respondeu com um verdadeiro choque para a Red Bull. Basicamente declarando que o sistema que a equipa andou a usar em 2016 e que estava a aperfeiçoar para este ano seria considerado… ilegal! Um sistema que a Mercedes pretendia também incluir na suspensão do W08.
Tentemos explicar sem complicar em demasia… A suspensão dianteira do Mercedes W07 tinha um elemento hidráulico que funcionava com azoto sob pressão e que servia para contrabalançar o natural rolamento do carro nas mudanças de direcção, explicando assim a estabilidade da frente do monolugar e a forma estável como lidava com as passagens nos correctores.
Já o Red Bull tinha igualmente um actuador hidráulico (na foto do site italiano «Analisi Tecnica» assinalado com a sete amarela) que tinha a capacidade de acumular energiase carregar para a libertar nas rectas, actuando nos suportes da suspensão de forma a elevar a frente do carro. Como se lembrarão, o Red Bull RB12 era o carro com maior ângulo de «rake» (a inclinação provocada pela diferença da altura ao solo entre a frente e a traseira) e, assim, em recta, esse ângulo era quase anulado, com vantagens no ganho de velocidade de ponta.
A clarificação de Charlie Whiting veio explicar que o que esse sistema fazia, no fundo, era alterar dinamicamente a aerodinâmica do carro, o que é proibido por regulamento! Sabe-se que a Red Bull estava a trabalhar numa versão ainda mais aprimorada desse actuador, enquanto a Mercedes o estava a incluir no sistema hidráulico que usava no W07 e que é legal por não influenciar a aerodinâmica do carro.
E porque seria esse sistema tão importante este ano? Porque, com as asas traseiras mais baixas (apesar de mais largas), julga-se que para a sua maior eficácia convém um ângulo de «rake» ainda maior que a Red Bull usava em 2016, mas isso só seria possível se o carro, depois, se… «endireitasse» nas rectas, caso contrário a enorme perda de velocidade de ponta não compensa.
No caso da Mercedes o problema, sendo complexo, não é tão grave, basta reverter para a eficaz suspensão do ano passado que é uma boa base de trabalho para uma adaptação para o carro deste ano. Embora não possa apostar num «rake» mais acentuado, o que, segundo se julga saber, se preparava para fazer pela primeira vez, de forma a melhorar a eficácia da asa traseira.
Já no caso da Red Bull o caso é bem diferente! Trata-se de fazer uma suspensão totalmente nova… ou de arriscar tudo! A equipa pode apresentar-se em Melbourne com o RB13 equipado com a suspensão já desenvolvida e esperar pelas verificações técnicas, mas o risco de ver o carro reprovado é gigantesco. Além de que poderá aproveitar os testes de Barcelona para pedir nova clarificação à FIA.
A alternativa é conceber uma suspensão mais convencional, até mais que a do RB16… Mas isso poderá obrigá-la a prescindir do acentuado «rake» que tem sido característico dos seus últimos projectos. E isso tem enormes implicações na aerodinâmica e no conceito geral de todo o carro! Ou seja, a pouco mais de dois meses do início do Mundial, a Red Bull está a braços com um problema gigante!