Que início de Mundial e quantas promessas para um campeonato bem animado! A vitória de Sebastian Vettel e da Ferrari no G.P. da Austrália deixam as melhores perspectivas para o que pode ser uma época de sonho! Porque houve luta cerrada com Lewis Hamilton e a Mercedes e, se não há qualquer dúvida quanto à justiça do triunfo de hoje do alemão e da Scuderia, também não ficou claro que haja um ascendente de qualquer das equipas… «Temos uma bela luta entre mãos!», resumia Hamilton, já pouco habituado a estas coisas.
Em ano de 70.º aniversário, a Ferrari entrou de rompante neste Mundial, com a sua 225.ª vitória e a 43.ª de Vettel, enviando uma importante mensagem: nos últimos 27 anos, em 19 o vencedor da primeira corrida foi campeão do Mundo! E saiu de Melbourne no comando do Mundial de Construtores, o que é a primeira vez que sucede na era da F1 híbrida… Estarão os tempos a mudar?... «Calma, ainda estamos em Março», dizia um Vettel já mais calmo, uma hora depois de ter cortado a meta na frente e ter exclamado pelo rádio, após o grito de vitória: «Esta é para nós, para todos nós, aqui na pista e em Maranello!! Grande trabalho, grande carro… mas vamos com calma!»
A demonstração de Vettel e da Ferrari foi convincente, parecendo ter tudo sob controlo, mesmo quando rodavam em segundo… «O que interessa é que foi um grande alívio para todos! Nestes últimos meses estivemos focados em nós próprios, em construir um bom carro que nos deu um bom ‘feeling’ desde o início. O mais importante é o que isto significa para a equipa, é crucial para o espírito de grupo que tem sido magnífico. Mas isto tem de ser apenas o princípio!».
Na verdade, mesmo se Hamilton fez um arranque perfeito segurando a liderança, a vitória de Vettel e da Ferrari começou a desenhar-se cedo: pela forma como o alemão agarrou bem o 2.º posto na partida (largava do lado sujo da pista); e pela aparente facilidade com que seguia o Mercedes, aproximando-se sempre que forçava um pouco o ritmo. Enquanto Hamilton se começava a queixar do sobreaquecimento e desgaste dos seus pneus, Vettel forçava o ritmo.
A Mercedes fez a jogada estratégica de chamar primeiro Hamilton, à 18.ª volta, para lhe montar os pneus macios que iriam até final. E até parecia que podia funcionar, pois o britânico voltou para a pista a voar e a ganhar tempo a Vettel que teimava em continuar em pista. Teoricamente ia resultar… até Hamilton apanhar Verstappen que estava numa estratégia diferente e, mesmo com pneus já muito usados, revelou-se impossível de passar. E como estava mais lento que Vettel, o holandês acabou, indirectamente, por lhe entregar a vitória: na volta anterior à paragem do Ferrari, Hamilton perdeu 1,3 s para Vettel, preso atrás do Red Bull…
Vettel saiu das «boxes» mesmo à frente daquele duo, com caminho livre e Hamilton sempre atrás de Verstappen até este entrar nas «boxes», algumas voltas depois… já o alemão estava longe! Havia um tom claro de frustração na voz de Hamilton nas conversas com o seu engenheiro, talvez por perceber que tinha perdido a corrida por uma chamada à «box» demasiado cedo que o colocou atrás de Verstappen… «Foi uma pena ficar atrás do Red Bull, mas estas coisas por vezes acontecem», dizia Hamilton.
Mas Niki Lauda não concordava: «Não, não cometemos qualquer erro estratégico, apenas a Ferrari foi melhor e tinha um carro muito mais rápido em corrida que o nosso». Jock Clear, da Ferrari, via a coisa de outra forma: «Estávamos preparados para outra coisa, retardarmos a paragem do ‘Seb’ para atacarmos no final mas, quando vimos o Lewis preso atrás do Verstappen, a estratégia caiu-nos nas mãos!», referiu o engenheiro da Scuderia que, apesar da vitória, não consegue dizer qual o melhor carro: «Como é quase impossível ultrapassar, quem estava na frente limitava-se a controlar o andamento, sucedeu primeiro com o Lewis, depois com o Sebastian. Por isso ainda não consigo dizer qual o melhor carro».
Foi, de facto, o que Vettel fez até final, controlando o andamento e o avanço confortável que tinha. Mas deu-se até ao luxo de fazer uma volta mais rápida perto do final que acabaria por ser batida pelo colega de equipa, Raikkonen: já agora, 2,4 s mais rápida que a volta mais rápida na corrida de 2016! E foi seguir até final para recolher os louros de uma magnífica vitória que fez soar os sinos em Maranello e deixar os fãs da F1 animados com a perspectiva de um Mundial ultra disputado entre Ferrari e Mercedes!
«Agora estamos felicíssimos, estamos na lua! Na partida não fiquei muito contente, talvez estivesse um pouco nervoso, mas deixei as rodas patinar um pouco…», contou Vettel. «Depois tive de enviar uma mensagem a dizer que estava ali para lutar e tive a sorte do Lewis ficar preso atrás do Max». O piloto da Ferrari mostra-se encantado com os monolugares de 2017: «Com estes carros pode forçar-se muito mais, os pneus não perdem tanto, continua a forçar-se e o carro até parece pedir mais. É muito mais divertido nas curvas rápidas, acho que podia ter continuado o dia todo!».
Hamilton não se mostrava muito desapontado com o desfecho da corrida até porque… confirmava todos os avisos que fizera em Barcelona e que poucos levaram a sério! «Não sou muito bom a fazer ‘bluff’ e não minto! Já sabia que eles estavam muito rápidos e tiveram um ritmo muito bom. A minha melhor fase foi no final da corrida, mas aí já ele estava longe», disse o britânico que recusou ter havido algum erro estratégico: «Apenas parei uma volta mais cedo que o previsto, mas não podia ir muito mais longe com aqueles pneus».
Atrás dos dois pilotos que emergem como candidatos a travarem uma luta emocionante pelo título deste ano, houve provas algo solitárias, mas deve destacar-se o trabalho de Bottas com uma corrida muito sólida na sua estreia com a Mercedes. Que levou Niki Lauda, ainda com o abandono de Rosberg «atravessado», a enviar uma farpa para o Mónaco: «O Valtteri fez um fabuloso trabalho, o Nico se aqui estivesse não teria feito melhor…». Já o finlandês estava satisfeito no pódio mas… quer mais: «Esperava um pouco melhor, mas foi um início decente. Os Ferrari foram surpreendentemente rápidos, vai ser um desafio enorme! Vamos ter de trabalhar muito para os bater, ainda bem que faltam 19 corridas e esta equipa não fica quieta».
Olhando para a corrida de Vettel, Kimi Raikkonen pareceu um pouco apagado, de tal forma que Max Verstappen (Red Bull) esteve sempre mais perto do que esperava: «Fiquei algo surpreendido por andar tão perto do Kimi, o carro esteve muito melhor na corrida do que na qualificação, o que me deixa contente». A Red Bull causou a desilusão aos milhares de espectadores que encheram as bancadas do Albert Park, quando o carro de Daniel Ricciardo ficou com a caixa encravada em 6.ª velocidade na ida para a grelha devido ao mau funcionamento de um sensor. Ainda entrou na corrida com duas voltas de atraso mas seria abandonado pelo seu motor… Não podia ter tido um fim-de-semana caseiro mais parecido com um pesadelo!
Felipe Massa (Williams) fez uma corrida tranquila e solitária para assinar um bom 6.º lugar no regresso da… reforma-que-nunca-foi, enquanto Sergio Perez liderou um bom dia para a Force India que viu ainda Esteban Ocon marcar o primeiro ponto na sua primeira corrida com a equipa, depois de batalhar toda a prova com Fernando Alonso. O espanhol da McLaren rodou muito tempo num surpreendente 10.º lugar e estava em posição de acabar nos pontos quando teve de abandonar por uma falha da suspensão. Se não é do motor… Destaque ainda para a «performance» sólida dos Toro Rosso, ambos nos pontos! Classificação:
Pos | Piloto | Equipa | Tempo/Dif. | Box |
---|---|---|---|---|
1 | Sebastian Vettel | Ferrari | 1.24.11,670 h | 1 |
2 | Lewis Hamilton | Mercedes | a 9,975 s | 1 |
3 | Valtteri Bottas | Mercedes | a 11,250 s | 1 |
4 | Kimi Räikkönen | Ferrari | a 33,393 s | 1 |
5 | Max Verstappen | Red Bull | a 28,827 s | 1 |
6 | Felipe Massa | Williams | a 1:23,386 m | 1 |
7 | Sergio Pérez | Force India | a 1 volta | 1 |
8 | Carlos Sainz | Toro Rosso | a 1 volta | 1 |
9 | Daniil Kvyat | Toro Rosso | a 1 volta | 2 |
10 | Esteban Ocon | Force India | a 1 volta | 1 |
11 | Nico Hülkenberg | Renault | a 1 volta | 2 |
12 | Antonio Giovinazzi | Sauber | a 2 voltas | 1 |
13 | Stoffel Vandoorne | McLaren | a 2 voltas | 1 |
— | Fernando Alonso | McLaren | Suspensão | 2 |
— | Kevin Magnussen | Haas | Prob. mecânico | 2 |
— | Lance Stroll | Williams | Travões | 3 |
— | Daniel Ricciardo | Red Bull | Pressão gasolina | 0 |
— | Marcus Ericsson | Sauber | Motor | 0 |
— | Jolyon Palmer | Renault | Travões | 1 |
— | Romain Grosjean | Haas | Motor | 1 |
Por fim, o que valeram os novos monolugares? Houve poucas ultrapassagens como se esperava. Mas não se podem tirar conclusões, na pista australiana nunca houve muitas ultrapassagens, esperemos pela corrida na China… Há, contudo, dois dados que nos mostram como estamos numa fase tão prematura de uma nova regulamentação e de como as equipas ainda têm tanto para aprender sobre estes novos carros e tanto trabalho na sua evolução: só 6 carros terminaram na mesma volta do 1.º (e Massa por pouco…), exibindo a enorme vantagem das equipas de maiores recursos no projecto de novos carros; sete abandonos é um número maior que aquilo a que estávamos habituados nas últimas épocas, mostrando que os carros estão ainda muito «verdes» e que há muito que evoluir!
O Mundial regressa dentro de duas semanas, em Xangai, para o G.P. da China. Um circuito onde será possível tirar mais conclusões, mesmo se é uma pista também com características muito próprias. Mas, pelo menos, foi a pista onde houve mais ultrapassagens em 2016, pelo que já se poderá ver até que ponto estes carros de 2017 permitem ou não ultrapassar com facilidade.