Com uma corrida soberba e uma largada decisiva, Valtteri Bottas virou o G.P. da Rússia do avesso, transformando uma vitória «anunciada» da Ferrari num êxito da Mercedes e no seu primeiro triunfo na Fórmula 1! «É fantástico, demorou muito, mais de 80 corridas, mas valeu a espera e toda a aprendizagem», disse o quinto finlandês a ganhar um Grande Prémio, juntando-se a Rosberg (pai), Hakkinen, Raikkonen e Kovalainen.
Ao fim de quatro corridas com a Mercedes, com quem assinou um contrato de apenas um ano, Bottas já tem uma «pole» e uma vitória no currículo. E que vitória! Ainda se justifica continuar com a «silly season» sobre quem fará companhia a Hamilton em 2018?!... «No Inverno apareceu esta estranha oportunidade de vir para a equipa e aproveitei-a. Agora só posso agradecer-lhes tudo o que fizeram para me ajudar», recordou o finlandês no pódio, depois de um duelo de gigantes com Sebastian Vettel em que provou ter fibra de campeão! Depois desta corrida, que outras dúvidas terá a Mercedes para tirar antes de o «agarrar» por mais alguns anos de contrato?!
Claro que muitos lamentarão ter sido uma corrida desinteressante por não ter havido ultrapassagens e este é um facto indesmentível. Mas desinteressante é que não foi, pelo intensíssima luta travada entre Mercedes e Ferrari, Bottas e Vettel, com um início de corrida espectacular por parte do finlandês e um ataque soberbo do alemão nas últimas vinte voltas, a deixar na dúvida o resultado mesmo até à última volta, terminando com uma diferença de 0,6 s!
E este é o espectáculo que a F1 procurava há muitos anos, duas equipas a lutarem prova a prova, curva a curva pelas vitórias, pelo título, com total imprevisibilidade: pela segunda prova consecutiva, quem domina a qualificação vê-se surpreendido na corrida! Agora passou a Mercedes para a frente do Mundial, com um ponto de avanço sobre a Ferrari. Alguém arrisca o resultado da próxima prova, em Barcelona?! E no campeonato de pilotos em que Vettel alargou a sua vantagem sobre Hamilton para 13 pontos, ainda há certezas quanto ao «proteccionismo» da Mercedes ao britânico, agora que Bottas já vence e está só a dez pontos do colega de equipa?!
É verdade que, com ultrapassagens, teria sido melhor… Mas a corrida de hoje e a indecisão quanto à vitória deixou-nos presos ao ecrã até o finlandês cortar a meta! Heikki Kovalainen resumiu tudo num «tweet» em que felicitou Bottas: «Foi como ver Hakkinen vs Schumacher nos seus melhores dias, nervos de aço!».
Valtteri Bottas foi perfeito na única manobra que lhe permitia entrar na luta pela vitória, com um arranque exemplar, aproveitando também um ligeiro patinar de rodas do Ferrari de Sebastian Vettel para passar para a frente quase sem precisar do cone de ar! O finlandês começava a prova com brilhantismo e assim continuava: quando se esperava que o Ferrari do alemão se colasse à espera do efeito DRS, Bottas afastou-se e foi ganhando tempo sobre tempo, até se pôr em posição de cobrir qualquer jogada estratégica da Scuderia, com uma vantagem superior a 4 s pouco antes da abertura das «hostilidades das boxes».
«Acho que perdi a corrida na partida...», dizia Vettel. «O meu arranque até talvez tenha sido semelhante ao do Valtteri, mas ele teve um grande cone de ar e já estava bem à frente quando chegámos à travagem. E depois fez um soberbo primeiro turno, não o consegui seguir e ganhou-me um bom avanço». Curiosamente, o Mercedes funcionou bastante melhor com os pneus ultramacios que já vinham da qualificação e só revelou mais dificuldades face aos Ferrari com os supermacios. E talvez aqui a Scuderia tenha arriscado demasiado, mantendo Vettel na pista demasiadas voltas, só o chamando às «boxes» à 31.ª, a 22 do fim. «Decidimos esticar o mais possível o primeiro turno, a ver se o Valtteri perdia tempo no tráfego», contaria Vettel. Como sucedera com Hamilton na Austrália, atrás de Verstappen…
Desta vez isso não sucedeu e Vettel voltou à pista com pneus muito mais frescos (menos 7 voltas) mas já com pouca margem para recuperar a desvantagem para Bottas, apesar do melhor ritmo do Ferrari com os pneus supermacios. Foi-lhe ganhando tempo todas as voltas e o final de corrida foi emocionante, com o finlandês a dar tudo para evitar que Vettel entrasse na «zona do DRS» (menos de 1 s de desvantagem), o que conseguiu até duas voltas do final. Mesmo assim, o alemão nunca esteve em posição de tentar a ultrapassagem e os nervos de aço de Bottas – era a primeira vez que se encontrava em tal posição, pressionado por um tetracampeão do Mundo! – chegaram para garantir uma vitória brilhante! O que teria sucedido se a Ferrari tem chamado Vettel duas ou três voltas mais cedo?... Os «ses» não têm aqui lugar!
Bottas encaixa bem no estereótipo que temos dos finlandeses, um tipo discreto e aparentemente frio, que não expressa quaisquer emoções. Mesmo a sua comunicação pelo rádio após a vitória foi feita num tom de voz calmo… Mas no pódio algo se soltou! «Normalmente não sou tão emocional, mas ouvir o hino finlandês foi muito especial… É algo de surreal, mas espero que seja a primeira de muitas vezes!», disse Bottas. «Foi, certamente, uma das melhores corridas da minha carreira e vai dar-me muita confiança. Sempre soube que podia conseguir este resultado, mas é sempre bom ter a confirmação de que tudo é possível!».
Neste dia histórico, em que passou a haver 107 pilotos vitoriosos em corridas do Mundial de F1, ainda há outras coisas a contar, como a corrida solitária de Kimi Raikkonen rumo ao seu 85.º pódio. «Este fim-de-semana dei um passo em frente, mas são os detalhes que fazem a diferença, pois nós os quatro estamos tão próximos…». O quarto é Lewis Hamilton que, hoje, esteve bem longe e essa foi a melhor notícia para Vettel… Fez também um arranque soberbo e só não ganhou o lugar a Raikkonen porque o finlandês se defendeu no limite depois de até terem tocado rodas! Mas, depois, esteve sempre a debater-se com as temperaturas do seu carro, sempre no limite.
«Antes de mais, parabéns ao Valtteri pelo super trabalho que fez», começou por dizer Hamilton. «Na partida não sei se teria feito diferença ter passado para a frente, pois não tinha ritmo para os seguir. Acho que fiz o melhor que podia com aquilo que tinha…». Mas, diga-se em abono da verdade, este foi um fim-de-semana particularmente discreto de Hamilton como ele costuma ter uma vez por ano: em 2016 foi no Azerbaijão; em 2017 será só este?...
Quando a corrida começou, na Red Bull esperava-se que Ricciardo fosse até ao 5.º posto e que Verstappen pudesse abandonar a qualquer altura, depois de ter sido detectada uma fuga de água antes de ir para a grelha, alvo de reparação de emergência. Afinal, o australiano parou muito cedo com os travões traseiros quase a arder e o holandês lá levou o seu carro, rodando sozinho, até ao 5.º posto. Também Felipe Massa andou isolado em 6.º que estava garantido… até perto do fim quando um furo lento o obrigou a ir à «box», atirando-o para 9.º.
Com isso beneficiaram os dois Force India e Hulkenberg que fez uma exibição prodigiosa da forma como o Renault consegue tratar bem os pneus, só se livrando dos ultramacios que usara na qualificação… à 41.ª volta! Sainz fechou o «top ten» e Lance Stroll conseguiu, enfim, terminar um Grande Prémio! Que Alonso nem conseguiu iniciar com mais uma falha do sistema híbrido do motor Honda (mas Vandoorne foi até ao fim), enquanto Palmer (Renault) e Grosjean (Haas) ficaram logo na primeira travagem por dois F1 serem demasiado sólidos para partilharem o mesmo espaço… Classificação:
Pos | Piloto | Equipa | Tempo/Dif. | Box |
---|---|---|---|---|
1 | Valtteri Bottas | Mercedes | 1.28.08,743 h | 1 |
2 | Sebastian Vettel | Ferrari | a 0,617 s | 1 |
3 | Kimi Räikkönen | Ferrari | a 11,000 s | 1 |
4 | Lewis Hamilton | Mercedes | a 36,320 s | 1 |
5 | Max Verstappen | Red Bull | a 1.00,416 m | 1 |
6 | Sergio Pérez | Force India | a 1.26,788 m | 1 |
7 | Esteban Ocon | Force India | a 1.35,004 m | 1 |
8 | Nico Hülkenberg | Renault | a 1.36,188 m | 1 |
9 | Felipe Massa | Williams | a 1 volta | 2 |
10 | Carlos Sainz | Toro Rosso | a 1 volta | 1 |
11 | Lance Stroll | Williams | a 1 volta | 1 |
12 | Daniil Kvyat | Toro Rosso | a 1 volta | 1 |
13 | Kevin Magnussen | Haas | a 1 volta | 1 |
14 | Stoffel Vandoorne | McLaren | a 1 volta | 2 |
15 | Marcus Ericsson | Sauber | a 1 volta | 2 |
16 | Pascal Wehrlein | Sauber | a 2 voltas | 2 |
— | Daniel Ricciardo | Red Bull | Travões | 0 |
— | Romain Grosjean | Haas | Colisão | 0 |
— | Jolyon Palmer | Renault | Colisão | 0 |
— | Fernando Alonso | McLaren | N/partiu (motor) | 0 |
O Mundial de Fórmula 1 estará de regresso dentro de duas semanas, com o G.P. de Espanha, em Barcelona. Uma prova de enorme importância, já que será aquela em que muitas das equipas aparecerão com inúmeras evoluções dos seus carros, depois dos ensinamentos das primeiras quatro corridas. A Red Bull, por exemplo, promete uma evolução tão profunda do RB13 que quase a define como uma… versão B! Será dentro de duas semanas!