Sebastian Vettel e a Ferrari contra-atacaram em estilo e, com um carro muito bem equilibrado para condições de corrida e uma interpretação estratégica perfeita do que se passava em pista, venceram o G.P. do Bahrain e recolocaram o alemão na liderança do Mundial, com mais 7 pontos que Hamilton!
Uma noite brilhante da Scuderia que confirma uma época escaldante, com uma corrida emotiva, que começou com um duelo directo na pista e se transformou num… jogo de xadrez, com uma batalha à distância. O rei de Maranello fez xeque-mate aos dominadores das últimas épocas, num início de época memorável: desde 2008 que a Ferrari não ganhava duas das três primeiras corridas do ano!
«Era disto que eu falava! Que máquina fantástica! É um prazer guiar este carro!», gritava Vettel pelo rádio para a sua equipa que passou também a liderar o Mundial de Construtores, com três pontos de avanço sobre a Mercedes. Já no pódio, ainda não conseguia expressar bem o que lhe ia na alma após a 44.ª vitória. «Foi um grande dia, nem sei o que dizer, adoro o que faço!!». De tal forma que continuará no Bahrain para guiar o Ferrari SF70H num dos dois dias de testes que se realizarão na 3.ª e 4.ª feira: «Claro que vou fazer os testes, estava a acabar a corrida e já queria saltar de novo para dentro do carro, o que acontecerá dentro de dois dias!».
Numa grelha reduzida a 19 carros – o «enésimo» sistema MGU-H da Honda nem deixou o McLaren de Vandoorne lá chegar… –, o alemão da Ferrari largou bem e passou logo Hamilton que teve dificuldades em colocar a potência no chão por partir do lado sujo da pista. Bottas mantinha o comando, mas também ele se debatia com problemas: uma avaria num gerador da Mercedes não tinha permitido calibrar, já na grelha, a pressão ideal dos pneus traseiros… O finlandês liderava mas percebia-se que não estava totalmente à vontade, de tal forma que os Red Bull se mantinham colados aos Mercedes e Ferrari de Vettel, com Verstappen a pressionar Hamilton!
Com o «comboio» em ritmo alucinante e numa das corridas mais intensas dos últimos tempos… mas sem «desfazer o nó», a Ferrari arriscou na estratégia chamando Vettel muito cedo para lhe montar de novo supermacios, no que foi seguida pela Red Bull que tinha Verstappen «trancado» atrás de Hamilton. Mas se o alemão da Ferrari voltou à pista a «voar», o holandês pouco durou, saindo de pista com total falha do sistema de travões… E como ficou furioso!
Pouco depois, seria a vez de Lance Stroll voltar a ser posto fora de acção, quando Carlos Sainz saiu da «box» e, ao chegar à primeira curva, entrou pelo pontão lateral do Williams, obrigando à entrada do «safety car». «Nem queria acreditar… Outra vez?! Mas desta vez já estava próximo das ‘boxes’ e acabou por não me afectar», comentaria, o alemão que até passou aí para a frente da corrida.
Porque a Mercedes chamou logo os dois carros, mas foi aí que Hamilton cometeu um erro básico, ao ser demasiado lento a entrar na «box» para dar tempo à equipa para trocar os pneus a Bottas. Ser «desnecessariamente lento» valeu-lhe uma penalização de 5 s, mais valia ter ficado parado à espera de vez… Essa penalização condicionou toda a sua corrida e, em termos globais, até a luta pela vitória, passando totalmente o controlo das operações para a Ferrari.
Quando Hamilton parou a segunda vez e cumpriu a penalização, saiu das «boxes» com pneus macios 17 voltas mais novos que os que Vettel tinha e começou a rodar cerca de segundo e meio mais rápido por volta. O seu engenheiro dizia-lhe que ainda podia vencer, o colega de equipa, Bottas – tantos problemas com o sobreaquecimento dos pneus traseiros… – chegou-se para o lado para o deixar passar, mas o seu problema era chegar-se e passar Vettel!
A cinco voltas do fim estava a 8,6 s do Ferrari e Hamilton dava tudo, mas Vettel procurava controlar e as dobragens faziam a diferença balançar para um lado ou outro. O alemão também mostrava que tinha tido a inteligência de guardar uma reserva nos seus pneus para este último ataque de Hamilton e respondeu sempre, acabando por cortar a meta com 6,66 s de vantagem. Ainda bem! Assim não se perderão tempos infindos a discutir os «ses» em relação aos 5 s da penalização (bem aplicada) a Hamilton!
«Desde a partida que senti que éramos rápidos e que podíamos ter uma palavra a dizer», comentou Vettel. «Pus o Valteri sob pressão e sem cometer erros. A paragem nas ‘boxes’ correu bem mas quando vi o ‘safety car’ pensei ‘oh não, outra vez não!’ [recordando o que se passara na China], mas felizmente que eles estavam todos perto da entrada das ‘boxes’ e eu consegui passar para a frente! Desde ontem que me sentia bem no carro e mesmo quando o Lewis atacou forte no final consegui gerir a vantagem».
E o sorriso contrastava bem com o semblante mais fechado da véspera, quando ficara a 0,48 s na qualificação… «Já percebi que vai ser um ano longo… Ontem fiquei um pouco em baixo por a diferença ser tão grande, mas algo me dizia que tínhamos um grande carro para a corrida. Eles estavam a esconder alguns ovos de Páscoa mas parece que os encontrámos! Graças ao Matteo [Binotto, director-técnico] que trabalha dia e noite, tanto na fábrica como na pista, temos evoluído imenso».
Lewis Hamilton tudo fez na fase final da corrida e ainda recuperou cerca de 13 s a Vettel mas, a certa altura, o alemão achou que já chegava… E o britânico teve de reconhecer a derrota: «Parabéns ao Sebastian e obrigado ao Valtteri por ter sido um cavalheiro. O erro na entrada das ‘boxes’ foi culpa minha e só tenho de pedir desculpas à equipa. Dei tudo o que podia mas a Ferrari fez um bom trabalho. A decepção está cá e perder pontos para a equipa quando se podia ganhar é doloroso… Mas temos de lutar para voltar para esta batalha!».
Já Bottas estará, agora, no centro da discussão sobre se a Mercedes já terá ou não decidido torná-lo piloto n.º 2, por lhe ter pedido para deixar passar Hamilton. Toto Wolff recusa esse discurso: «Chega a uma altura em que temos de decidir se queremos ou não ganhar a corrida e a nossa única chance era essa, pelos problemas que o Valtteri tinha. É possível que, algures na época, possa ter de tomar essa decisão horrível. Mas não é agora que ainda faltam tantas corridas e quando o Valtteri está a melhorar de prova para prova. Seria tremendamente injusto para ele!», garantiu.
«Foi uma corrida difícil, na primeira parte com o problema das pressões dos pneus traseiros estarem erradas, mas senti sempre o carro a fugir muito de traseira», contava Bottas. «E foi pena porque o objectivo hoje era o degrau mais alto. Mas, até agora, esteve foi o meu melhor fim-de-semana com a Mercedes e há mais para vir!».
Com o abandono de Max Verstappen – «com a paragem nas ‘boxes’ tínhamos passado os dois Mercedes e íamos terminar em 2.º!», garantia o holandês… –, Kimi Raikkonen fez a obrigação de levar o Ferrari ao 4.º posto mas a 22,5 s de Vettel e numa pista do agrado do finlandês, onde já conseguiu oito pódios… É bom que comece a acelerar o passo… Mas lá bateu um Daniel Ricciardo que até chegou a pensar em… vitória! «No início, quando andámos ao ritmo dos da frente e os via a deslizar e com problemas nos pneus traseiros, enquanto eu conseguia poupar os meus, até pensei nisso. Mas quando pusemos os macios, os pneus nunca funcionaram e o carro ficou sempre difícil de controlar».
Atrás, duas corridas dignas de destaque. A do «ex-reformado» Felipe Massa, a subir de 8.º a 6.º no Williams com mais uma prova sólida e a bater-se com Raikkonen enquanto os pneus traseiros lhe permitiram. «Foi quase uma vitória e a prenda que o Sir Frank [Williams] merecia hoje que faz 75 anos!». E a espectacular recuperação de Sergio Perez (Force India), com um fabuloso ritmo de corrida e uma estratégia de «boxes» perfeita a subir do 18.º lugar na grelha até 7.º! Ocon coleccionou o terceiro 10.º lugar em três corridas, enquanto a Renault acabou por desiludir, depois da brilhante qualificação, só com Hulkenberg nos pontos (9.º). Classificação:
Pos | Piloto | Equipa | Tempos/Dif. | Box |
---|---|---|---|---|
1 | Sebastian Vettel | Ferrari | 1.33.53,374 h | 2 |
2 | Lewis Hamilton | Mercedes | a 6,660 s | 2 |
3 | Valtteri Bottas | Mercedes | a 20,397 s | 2 |
4 | Kimi Räikkönen | Ferrari | a 22,475 s | 2 |
5 | Daniel Ricciardo | Red Bull | a 39,346 s | 2 |
6 | Felipe Massa | Williams | a 54,326 s | 2 |
7 | Sergio Pérez | Force India | a 1.02,606 m | 2 |
8 | Romain Grosjean | Haas | a 1.14,865 m | 2 |
9 | Nico Hülkenberg | Renault | a 1.20,188 m | 2 |
10 | Esteban Ocon | Force India | a 1.35,711 m | 2 |
11 | Pascal Wehrlein | Sauber | a 1 volta | 1 |
12 | Daniil Kvyat | Toro Rosso | a 1 volta | 2 |
13 | Jolyon Palmer | Renault | a 1 volta | 2 |
14 | Fernando Alonso | McLaren | a 3 voltas (motor) | 3 |
— | Marcus Ericsson | Sauber | Caixa de velocidades | 1 |
— | Carlos Sainz | Toro Rosso | Colisão | 1 |
— | Lance Stroll | Williams | Colisão | 1 |
— | Max Verstappen | Red Bull | Travões traseiros | 1 |
— | Kevin Magnussen | Haas | Prob. mecânico | 0 |
— | Stoffel Vandoorne | McLaren | N/alinhou (motor) | 0 |
A Fórmula 1 vai manter-se no Bahrain porque terá, terça e quarta-feira, a primeira das duas sessões de testes durante a temporada. A outra será no Hungaroring, após o G.P. da Hungria. Depois, haverá um pequeno hiato, pois o Mundial regressará com o G.P. da Rússia dentro de menos de duas semanas, realizando-se a corrida no circuito de Sochi a 30 de Abril.