Não terá sido a forma como Lewis Hamilton teria sonhado em tornar-se o piloto britânico mais bem-sucedido da história da F1, mas foi com um 9.º lugar (e a uma volta do vencedor!) que garantiu a conquista do quarto título Mundial! Numa corrida em que a decisão do título se «desenhou» na terceira curva, o britânico fez a grande «fiesta» no G.P. do México, mas não ofuscou a corrida «gigante» de Max Verstappen (Red Bull) a conseguir a sua terceira vitória!
A fabulosa exibição do holandês deveria ocupar todos os espaços dedicados à corrida mexicana mas são poucas as vezes que temos um tetracampeão do Mundo, para mais num título decidido de forma tão dramática como este: no final da 1.ª volta Hamilton estava em último, depois de Vettel lhe ter acertado com a asa do Ferrari numa roda; mas também o alemão sofrera com a sua manobra descuidada e caíra para penúltimo… Mais uma vez, milhões de fãs da F1 ficavam privados de um duelo director entre os dois pilotos.
«Não era esta a corrida que queria, mas nunca desisti e fui até final, lutando sempre para ganhar o máximo de lugares que conseguisse», declararia Hamilton. «Estou grato por este dia, à minha família e a Deus!». Niki Lauda via mais um piloto deixar os seus três títulos para trás na tabela das estatísticas mas festejava entusiasticamente: «Não há formais invulgares de se ser campeão, é-se campeão e ponto! Mas não percebi a manobra agressiva do Vettel em relação ao Lewis...».
Já se sabia que o «sprint» de quase um quilómetro até à primeira curva iria proporcionar uma luta tremenda nas primeiras curvas que Verstappen iria atacar como se não houvesse amanhã, ele que nada tinha a ver com contas do título… Foi o que sucedeu e, aproveitando o cone de ar do Ferrari, colocou-se ao seu lado na primeira curva, encetando uma luta roda com roda que permitiu que Lewis Hamilton se interessasse por um espaço que se abriu. De repente, Vettel tinha de se defender de dois ataques para manter a liderança de que necessitava e, ao perdê-la definitivamente para Verstappen, acabou por acertar com a asa dianteira na roda traseira-direita do Mercedes, furando-a…
De repente, voltámos a ficar privados da tão esperada luta entre os dois contendores pelo título, com ambos a pararem nas «boxes» a caírem para último… «Acham que ele me bateu de propósito?», questionou Hamilton a sua «box», ficando sem resposta, mas com um carro que tinha pequenos danos (nomeadamente uma quebra do lado esquerdo do difusor traseiro), pois nunca mais conseguiu andar num bom ritmo, arrastando-se na cauda do pelotão. A sua sorte é que, na frente, Verstappen e o seu colega de equipa, Bottas, estavam a «desaparecer», tornando quase impossível a Vettel chegar ao 2.º lugar, única forma de manter viva a luta pelo título…
Mas ainda havia muita corrida e os problemas dos motores Renault que afastaram Ricciardo, Hulkenberg e Hartley não sossegavam ninguém na Red Bull, mesmo se Verstappen tinha a vantagem de rolar em ar fresco, gerindo melhor as dificuldades de refrigeração do carro. Com um bom avanço sobre Bottas, entrou-se na fase humorística, com a Red Bull a pedir a Verstappen para controlar a sua prova. «Então devo baixar o ritmo, certo?», dizia o holandês para, na volta seguinte, o seu engenheiro lhe dizer num tom mais seco: «Fizeste o mesmo tempo que na volta anterior!». «Desculpem, não consigo…», respondia Verstappen a rir-se!
Atrás, e depois de Hamilton e Vettel terem montados pneus supermacios aproveitando, como toda a gente, um «safety car» virtual, ambos subiam na classificação e o britânico fazia tudo (mas com super cautelas!) para chegar pelo menos a 9.º, o que frustraria um quase impossível 2.º lugar de Vettel. Pelo sim, pelo não que ninguém garantia a vitória de Verstappen pela fragilidade mostrada pelos motores e pela sua teimosia em continuar de «pé cravado» a estabelecer melhores voltas, em vez de poupar o material… É por isso que o holandês é dos pilotos mais excitantes da actualidade, é por isso que ainda tem muito que aprender e crescer!
Quando Vettel, com uma corrida notável – apenas manchada com aquela colisão perfeitamente escusada… –, chegou a 4.º e ficou com a volta mais rápida da corrida (a Red Bull nem disse a Verstappen!), perguntou qual a distância para Raikkonen que estava em 3.º e quando lhe responderam 23 s percebeu a impossibilidade da sua tarefa desabafando com um «mamma mia». Até porque o 3.º lugar não lhe servia para nada e Verstappen e Bottas estavam ainda muito mais longe! O título estava entregue…
Verstappen coleccionava a sua terceira vitória, após uma corrida tão dominadora e tranquila que saiu do Red Bull… sem uma pinga de suor. «Estávamos sempre a dizer-lhe para controlar o ritmo e poupar o carro e ele respondia que não conseguir ir mais devagar! Mas foi um ‘stress’, com os problemas com os outros motores!», confessou Christian Horner antes de ir cumprimentar o seu piloto que contava tranquilamente: «A partida foi crucial e fui por fora na curva 1, o que correu bem. Depois, foi olhar pelos pneus e toda a prova correu muito bem. Depois do que sucedeu na semana passada, foi uma corrida perfeita, num dia perfeito! Foi uma das vitórias mais fáceis em toda a minha carreira», dizia o holandês que ainda conseguiu ver o toque de Vettel em Hamilton. «Para mim foi bonito de ver, facilitou-me a corrida!».
«Tentei tudo para o seguir, mas o Red Bull estava demasiado rápido para nós…», resumiu Valtteri Bottas depois de felicitar Hamilton. O seu 2.º lugar foi uma grande notícia e abre-lhe grande expectativas para o que ainda falta da temporada: o finlandês está agora a apenas 15 pontos de Vettel no Mundial de Pilotos!
O alemão da Ferrari não está ainda «de férias» e mostrava-se resignado com o «arrumar da questão»: «Foi desapontante… O que fizemos hoje não é importante, é mais importante o que o Lewis fez todo o ano e é por isso que mereceu ganhar o título. Hoje não é sobre mais ninguém, é sobre ele», dizia o alemão, sendo interrompido por Hamilton para darem um abraço de rivalidade claramente respeitosa. «Não o temo, gosto de correr com ele, mas gostava que o duelo continuasse até ao final do ano».
Num olhar necessariamente rápido para o que se passou nos restantes lugares, destaque para a Force India que garantiu o 4.º lugar no Mundial de Construtores, com mais uma notável corrida de Esteban Ocon, bem à frente de Sergio Perez. A boa notícia? Acabaram-se as ordens de equipa e os dois pilotos podem voltar a bater-se livremente! Mas os grandes destaques têm de ir para as corridas de Lance Stroll que, no dia do seu 19.º aniversário, deu um 6.º lugar extremamente importante para a Williams agarrar o 5.º lugar entre os Construtores. Surpreendente foi a subida de Kevin Magnussen até 8.º, depois dos Haas terem sido os piores carros na qualificação, ficando-se pelo Q1 até atrás dos Sauber! Classificação:
Pos | Piloto | Equipa | Tempo/Dif. | Box |
---|---|---|---|---|
1 | Max Verstappen | Red Bull | 1.36.26,550 h | 1 |
2 | Valtteri Bottas | Mercedes | a 19,678 s | 1 |
3 | Kimi Räikkönen | Ferrari | a 54,007 s | 1 |
4 | Sebastian Vettel | Ferrari | a 1.10,078 m | 2 |
5 | Esteban Ocon | Force India | a 1 volta | 1 |
6 | Lance Stroll | Williams | a 1 volta | 1 |
7 | Sergio Pérez | Force India | a 1 volta | 2 |
8 | Kevin Magnussen | Haas | a 1 volta | 1 |
9 | Lewis Hamilton | Mercedes | a 1 volta | 2 |
10 | Fernando Alonso | McLaren | a 1 volta | 1 |
11 | Felipe Massa | Williams | a 1 volta | 1 |
12 | Stoffel Vandoorne | McLaren | a 1 volta | 1 |
13 | Pierre Gasly | Toro Rosso | a 1 volta | 1 |
14 | Pascal Wehrlein | Sauber | a 2 voltas | 1 |
15 | Romain Grosjean | Haas | a 2 voltas | 2 |
— | Carlos Sainz | Renault | Motor | 3 |
— | Marcus Ericsson | Sauber | Motor | 2 |
— | Brendon Hartley | Toro Rosso | Motor | 0 |
— | Nico Hülkenberg | Renault | Motor | 1 |
— | Daniel Ricciardo | Red Bull | Motor (MGU-H) | 1 |
Após duas corridas seguidas no parte de cima do continente americano, teremos um fim-de-semana de folga, antes de o Mundial seguir para sul, para a sua penúltima prova, no Brasil. Interlagos, em S. Paulo, será a próxima paragem e… agora é que o espectáculo poderá melhorar: muitas vezes, é quando já não há calculismos pelos títulos que as corridas se tornam interessantes, com todos os pilotos a darem tudo e a arriscarem ao máximo. Verstappen já não estará «sozinho» quando chegar à primeira curva…