A Mercedes é campeã do Mundo de Fórmula 1 pela quarta vez consecutiva e Lewis Hamilton deu mais um passo rumo ao tetracampeonato, com a quinta vitória em seis visitas a Austin, para o G.P. dos Estados Unidos! «Acho que esta passou a ser a minha pista favorita!», exclamou o britânico que tem o ceptro à distância de um 5.º lugar, já no próximo fim-de-semana, no México.
É claro que, por muito valor que as marcas queiram dar ao título de Construtores – o lendário Enzo Ferrari fingia que era o único que interessava… –, é o de Pilotos que atrai as atenções dos fãs. E, neste particular, Hamilton voltou a bater Vettel de forma tão clara que o próprio alemão o reconheceu: «Parabéns ao Lewis, hoje não conseguimos andar no seu ritmo». Aumentando a vantagem para 66 pontos, a três corridas do final (México, Brasil e Abu Dhabi), o piloto da Mercedes deverá resolver a questão já no próximo domingo: mesmo que Vettel ganhe, basta-lhe um 5.º lugar para empatar com… o seu actual rival e com Prost no número de títulos.
Mas não podemos passar ao lado do facto de hoje se ter decidido um dos Mundiais em disputa e Hamilton fez questão de agradecer, via rádio, «a todos quantos estão aqui, mas também aos que tanto trabalham em Brackley [chassis] e em Brixworth [motores]», dizendo-se honrado por fazer parte do grupo que domina a F1 desde 2014.
Toto Wolff, director da equipa e responsável por cerca de milhar e meio de pessoas, teve de elevar a voz para se fazer ouvir acima da música que já «bombava» na «box» da Mercedes… «Todos os elementos de Brackley e Brixworth trabalharam num ritmo infernal, sete sobre sete, 24 sobre 24! Tivemos épocas com grande vantagem pelo motor, mas este ano todos se aproximaram e foi mais duro». E manteve o discurso de união mesmo quando quiseram que destacasse a boa forma de Hamilton: «O Lewis está no topo da sua forma, desde a pausa de Verão que não comete erros, mas não o queria destacar… Ele é a ponta mais visível de um enorme grupo que fez um carro tão competitivo».
E a corrida até começou bem para Vettel, com um magnífico arranque em que surpreendeu Hamilton, passando para a liderança, em que esperava que o Ferrari revelasse melhor ritmo de corrida que o Mercedes. Afinal não foi o que sucedeu… «Na partida tudo pareceu bem, mas rapidamente percebi que não tinha o ritmo dele», contaria Vettel que não conseguiria suster a caminhada vitoriosa de Hamilton por muito tempo.
Pode não ter decidido o título mas terá sido, na verdade, a machadada final nas esperanças de Vettel e da Ferrari na corrida pelo ceptro dos Pilotos. Não propriamente por terem perdido a corrida para Hamilton, mais pela forma como tudo se passou a partir da 6.ª volta, quando Hamilton pareceu ter decidido que já chegava de esperar, passou com aparente facilidade pelo Ferrari e, em três voltas, abriu uma diferença e dois segundos. Aqui se notou a falta de trabalho de 6.ª feira, com todos os problemas que até levaram a Ferrari a trocar-lhe o chassis, mas que não permitiram chegar a uma afinação perfeita para corrida. E tanto que Vettel confiava nisso…
Como se isso já não fosse suficiente, enquanto a Mercedes comunicava a Hamilton que se mantinha fiel ao «Plano A» – o que se pensava ser uma só paragem –, Vettel queixava-se da rápida degradação dos pneus dianteiros. Curiosamente, essa situação ia dando a volta à corrida, porque a Ferrari chamou o alemão para lhe montar pneus macios quando parecia ser ainda cedo demais, aparentemente par o defender da aproximação de Bottas. Isso parece ter levado a Mercedes a descurar um pouco a posição de Hamilton que tinha grande avanço e, quando o britânico trocou de pneus, por pouco perdia a liderança, ficando com Vettel mesmo em cima!
Mas o Mercedes, nas mãos de Hamilton, estava de facto superior e rapidamente voltou a ganhar terreno, até chegar a uma vantagem confortável que permitiu ao britânico controlar a prova. «Tem sido um ano incrível até agora, mas confesso que não esperava ter um ritmo tão melhor que o do Sebastian… Faltam três corridas, são três para ganhar!», exultava o piloto da Mercedes, enquanto fazia um «Bolt» com o homem mais veloz do Mundo, Usain Bolt. «Estou a tentar apanhar-te em número de vitórias!», brincava, enquanto o Vettel reconhecia: «Não foi o resultado que queríamos, mas não houve nenhum segredo, a não ser que eles foram mais rápidos que nós. E quem é mais rápido tem mais hipótese de ganhar».
Também logo atrás começou por haver uma espécie de… «wrestling» entre Bottas (Mercedes) e Ricciardo (Red Bull), com Raikkonen (Ferrari) a aproximar-se. Mas o australiano abandonaria quando o seu motor se «calou»… Por alguma coisa a Renault trocou o motor de Verstappen nesta prova por estar no limite da quilometragem, mas optou por só fazer essa operação no México, onde Ricciardo deverá penalizar. Enquanto isso, o holandês recuperara… todos os lugares possíveis e, com os seus supermacios, até chegou a liderar a corrida, com as paragens dos outros nas «boxes»!
Livres da ameaça do Red Bull, Bottas pôde aumentar o ritmo mas também Raikkonen se revelou bastante rápido pressionando o seu compatriota. E a aproveitar a luta entre finlandeses, lá vinha um jovem holandês a sonhar com um pódio depois de ter largado de… 16.º! Verstappen faria uma paragem extra que levou a Ferrari a responder com uma segunda troca de pneus a Vettel que fez o alemão baixar de 2.º a 4.º, sem aparente vantagem… imediata.
Só mais tarde se perceberia o ganho, quando, a dez voltas do final, já Raikkonen tinha passado Bottas, tanto Vettel como Verstappen se foram aproximando dos finlandeses. Prometia-se um final emotivo pelos dois lugares no pódio, enquanto Hamilton tinha tudo controlado, com 12 s de avanço sobre Raikkonen. Com pneus já muito usados, o finlandês da Mercedes foi presa fácil para Vettel e Verstappen e Raikkonen deve ter-se «assustado» ao ver Vettel nos retrovisores, pela forma como abriu a trajectória e perdeu o 2.º lugar…
Faltava ainda, contudo, a maior polémica da tarde, quando Verstappen começou a atacar Raikkonen, com enormes dificuldades para se defender por também ter os pneus muito usados. O holandês não dá tréguas até chegar à meta e, numa das últimas curvas do circuito, meteu por dentro e passou mesmo o finlandês, roubando-lhe o 3.º lugar. Já estava a preparar-se para subir ao pódio quando veio a ordem para sair e dar o lugar a Raikkonen! Os comissários (o ex-piloto era Mika Salo) tinham-no penalizado em 5 s por ter cortado a pista para lá dos limites na manobra de ultrapassagem!
«Fiquei desapontado por perder o pódio mas, depois, parece que houve um problema qualquer com o Max», comentava Raikkonen, enquanto o jovem holandês «espumava» de raiva, mesmo se aparentava alguma calma: «Todos andaram largo todo o fim-de-semana, inclusive eu. Na curva 19 saíamos da pista e nunca ninguém disse nada! Acho que isto não é bom para o desporto, deviam fazer regras claras que funcionassem em todo o lado. Mas com estas decisões estúpidas matam o desporto, espero que os fãs não gostem destas decisões e se manifestem!…». Um episódio que fará ainda correr muita tinta!
Mas animação foi coisa que não faltou nesta corrida, com o 6.º lugar a ser alvo de discussão entre os dois Force India, a repetir-se o «filme» de Perez a queixar-se de ser mais rápido que Ocon, mas sem que a equipa o deixasse passar. E Sainz (Renault) aproveitou o impasse para se meter no meio dos dois, numa brilhante corrida de estreia do espanhol com a Renault. E, claro, destaque também para o ponto obtido por Daniil Kvyat no seu regresso à F1 e que deixa a Red Bull com uma «batata quente» na mão: o russo teve um excelente fim-de-semana, merece ser posto de lado antes da corrida mexicana?... Classificação:
Pos | Piloto | Equipa | Tempo/Dif. | Box |
---|---|---|---|---|
1 | Lewis Hamilton | Mercedes | 1.33.50,993 h | 1 |
2 | Sebastian Vettel | Ferrari | a 10.143 s | 2 |
3 | Kimi Räikkönen | Ferrari | a 15.779 s | 1 |
4 | Max Verstappen | Red Bull | a 16.768 s | 2 |
5 | Valtteri Bottas | Mercedes | a 34.967 s | 2 |
6 | Esteban Ocon | Force India | a 1.30,980 m | 1 |
7 | Carlos Sainz | Renault | a 1.32,944 m | 1 |
8 | Sergio Pérez | Force India | a 1 volta | 1 |
9 | Felipe Massa | Williams | a 1 volta | 1 |
10 | Daniil Kvyat | Toro Rosso | a 1 volta | 1 |
11 | Lance Stroll | Williams | a 1 volta | 2 |
12 | Stoffel Vandoorne | McLaren | a 1 volta | 1 |
13 | Brendon Hartley | Toro Rosso | a 1 volta | 2 |
14 | Romain Grosjean | Haas | a 1 volta | 1 |
15 | Marcus Ericsson | Sauber | a 1 volta | 1 |
16 | Kevin Magnussen | Haas | a 1 volta | 2 |
— | Fernando Alonso | McLaren | Motor | 1 |
— | Daniel Ricciardo | Red Bull | Motor | 1 |
— | Pascal Wehrlein | Sauber | Danos de colisão | 1 |
— | Nico Hülkenberg | Renault | Pressão de óleo |
Corrida terminada, foi arrumar tudo rapidamente para um «transfer» relativamente curto – comparado com a escala habitual das viagens da F1 fora da Europa – para sul, para o país vizinho, pois o G.P. do México é já no próximo fim-de-semana. Um desafio diferente, no autódromo Hermanos Rodriguez, com a elevada altitude a colocar problemas adicionais. Os primeiros treinos decorrerão na sexta-feira e a corrida será no domingo, às 19 horas de Portugal Continental e Madeira.