A McLaren continua a exercer forte pressão sobre a Honda, com ameaçadas mais ou (cada vez) menos veladas de divórcio para 2018 Mas a marca nipónica também já veio defender a sua honra...
O responsável máximo da equipa, Zak Brown, não tem sido meigo nas palavras. «Não vamos ter mais um ano igual a este e a nossa preferência continua a ser lutar pelo título com a Honda. Mas, a certa altura, temos de tomar uma decisão e perceber se isso será viável e começamos a ter algumas preocupações relativamente a essa hipótese… Estamos próximos do nosso limite. Três anos na F1 são uma eternidade e não podemos ficar nisto para sempre!».
É sabido que a McLaren contactou, há alguns meses, a Mercedes para saber da disponibilidade da marca alemã para lhe fornecer motores. E Zak Brown já põem até em causa a vantagem de receber uns largos milhões de euros anuais (além dos motores) por parte da Honda, por não compensarem, face às perdas em prémios da FOM e em patrocínios, pela falta de resultados e a má imagem que a equipa tem dado. «A Honda trabalha no duro mas parece algo perdida… Esperávamos uma evolução do motor para o Canadá que não só não apareceu como não nos conseguem dizer quando irá aparecer…», revelou.
E ontem mesmo deixou, publicamente, uma espécie de ultimato à marca nipónica, situação com que os japoneses não costumam lidar particularmente bem… «Já começámos a trabalhar no nosso carro de 2018 e as grandes decisões com implicações no seu desenho geral têm de ser tomadas, o mais tardar, antes da pausa de Verão». Ou seja, até finais de Julho a McLaren irá decidir se irá continuar com a Honda em 2018…
«Temos um plano B, temos um plano C. Temos vários planos, damo-nos bem com toda a gente no ‘paddock’, com quem bebemos cafés e conversamos. O certo é que algo vai ter de mudar [na Honda]. Se continuarem a fazer o que fizeram nestes dois anos vão continuar a ter os mesmos resultados...», concluiu Zak Brown.
Do lado da marca nipónica, fortemente atacada na sua honra – algo que não é despiciente numa marca nipónica! – o responsável desportivo, Yusuke Hasegawa diz compreender a frustração verbalizada por Zak Brown mas recusa que a Honda esteja perdida: «Infelizmente não o consigo convencer de que estamos a avançar na direcção certa, mas estou certo de que não estamos perdidos». De facto, não é fácil acreditar… «Ainda precisamos de mais algum tempo mas estamos a fazer as coisas certas e acelerámos o nosso desenvolvimento».
Ontem houve mais uma reunião… animada entre Hasegawa e Brown, embora o japonês insista que as relações se mantêm excelentes. «Não fiquei surpreendido pelos seus comentários, é natural que se queixe e se sinta frustrado, também eu e os elementos da Honda estamos…». E não coloca qualquer dúvida acerca da continuação da colaboração com a McLaren – «temos uma ligação muito forte!» – embora continue sem avançar uma data para a introdução da nova evolução do seu motor…
O que é realidade e o que é… «bluff» de Zak Brown?!
Convém, depois da troca de palavras, olhar para este caso de forma mais fria e recorrendo ao que dizem os regulamentos, temperando tudo com uma pitada de bom senso… Comecemos, aliás, por esta última. Zak Brown deixa no ar a ameaça de, por não o conseguir com os motores Honda, pôr a McLaren de novo como cliente da Mercedes para lutar pelo título Mundial. Alguma equipa-cliente da Mercedes já o conseguiu fazer ou até lutar pelas vitórias?!... A McLaren estará mesmo em condições de prescindir dos larguíssimos milhões de euros (chegou a falar-se em 100, mas sem confirmação) que a Honda lhe paga anualmente e ter ainda de gastar mais uns 30 ou 40 para ter motores Mercedes?!...
Depois, há um detalhe legal de que ninguém fala e que transforma todos estes «comícios» de Zak Brown num espalhafatoso «bluff»… Segundo o Anexo 9 dos Regulamentos Desportivos, um concorrente que queira inscrever uma nova equipa – neste caso seria a passagem de McLaren/Honda para uma alegada McLaren/Mercedes – tem de a registar até 6 de Maio para ser confirmada pela FIA até 15 de Maio. Esse prazo já foi ultrapassado e, a partir daqui, para o fazer só com autorização unânime de todas as restantes equipas. Estarão Williams e Force India, outras clientes Mercedes, pelos ajustes?!... E a Ferrari concordaria com tal coisa?
Tudo isto, claro, partindo do princípio que a Mercedes estaria interessada em fornecer motores à McLaren, o que não é nada óbvio… Ou seja, tudo indica que McLaren e Honda estão «condenadas» a manterem a sua relação, para mais depois de o construtor nipónico ter duplicado as suas instalações em Milton Keynes, de forma a poder fornecer duas equipas, pois contará também com a Sauber em 2018.