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Renault e a contratação de Budkowski: «Não estamos cá para fazer amigos!»

Continua e promete arrastar-se a polémica em torno da passagem de Marcin Budkowski de director técnico da FIA para a Renault, com um período de apenas três meses de «nojo». As principais equipas já escreveram uma carta de protesto tanto à FIA como a Chase Carey, patrão da Liberty Media, enquanto a Renault deu finalmente a entender que está mesmo para contratar Budkowski que fica livre em Janeiro. E o seu director-geral, Cyil Abiteboul, está pouco preocupado com polémicas: «Não andamos na F1 para fazer amigos!».

A polémica rebentou no fim-de-semana do G.P. da Malásia, quando Budkowski apresentou, inesperadamente, a demissão do seu cargo na FIA onde, basicamente, «policiava» tudo o que as equipas faziam ou… pensavam fazer. «Ele visitou vários túneis de vento e sabe perfeitamente o que diversas equipas estão a preparar para 2018», disse Christian Horner, da Red Bull, que não afasta a possibilidade de recorrer à Justiça, caso Budkowski comece a trabalhar na Renault em Janeiro!

Da marca francesa houve… silêncio absoluto durante o Grande Prémio todo, mas o director-geral da Renault Sport, Cyril Abiteboul, lá acabou por, de forma mais ou menos indirecta, confirmar a contratação ou o acordo com Marcin Budkowski: «Queremos ser um dos ‘top team’ em 2020, o que significa reduzir a diferença para eles em cerca de um segundo, segundo e meio por volta. Temos, por isso de ser agressivos no recrutamento – não particularmente com o Marcin – e temos ainda de nos reforçar mais. Enstone tem de crescer».

É sabido que a Renault tem estado a contratar engenheiros de outras equipas, nomeadamente técnicos mais jovens da Mercedes! E Abiteboul não tem receio da polémica que a (eventual) contratação de Budkowski possa causar. «Ninguém está neste desporto para fazer amigos. Respeitaremos as leis e os regulamentos em vigor, porque a Renault sempres foi leal e jogou com ‘fair-play’. Mas, ao recrutar, temos de abordar os melhores técnicos que estão a trabalhar noutros locais, o que pode não agradar a toda a gente. Já passámos de 475 a 620 pessoas e ainda não acabámos…».

Já os seus rivais continuam entre o espantados e o furiosos com a situação… As seis maiores equipas escreveram a Jean Todt (presidente da FIA) e Chase Carey (presidente da Liberty Media) para darem conta da sua preocupação pela saída do engenheiro francês de origem polaca da FIA. Por se tratar de alguém que está bem por dentro dos segredos de todas as equipas, pelas suas funções de controlo técnico, a quem todas as informações eram facultadas na base da confiança.

Em verdadeiro rigor, nem a Renault nem Budkowski estão a cometer qualquer ilegalidade… O que as restantes equipas não teriam percebido – porque, senão, já o teriam tentado contratar! – era que o homem da FIA só estava obrigado, à luz da lei suíça pela qual se rege o seu contrato de trabalho, a três meses de afastamento, antes de poder trabalhar para uma delas. O normal, nos outros países, é, no mínimo, um ano, o que daria algum tempo para que a tecnologia evoluísse o suficiente para que os segredos que Budkowski detém neste momento se tonassem irrelevantes…

O caso foi discutido logo no primeiro dia de treinos, em Sepang, quando os directores da Mercedes, Ferrari, Red Bull, McLaren e Force India se reuniram no espaço da Williams. Dá-se o caso de a Renault ainda não fazer parte do Grupo Estratégico da F1, pelo que não esteve representada nessa reunião. Daí surgiu a ideia da tal carta que pede, essencialmente, um esclarecimento por parte da FIA em relação ao que as equipas deverão esperar, a parti de agora, de uma relação que sempre se baseou na confiança.

«Até aqui, o processo sempre foi irmos ter com a FIA, mostrarmos o que estamos a pensar fazer e perguntarmos-lhes se é aceitável do lado deles. E é a partir daí que ficamos com uma direcção mais clara do caminho a seguir», explicou o director da Force India, Bob Fernley. «Se agora já não podemos confiar nisso, teremos de passar a correr muito mais riscos». De aparecer com novidades que, depois, não sejam consideradas legais ou que se prestem a protestos por parte de outras equipas, entenda-se. Fernley que, há uns anos, tentou «seduzir» Charlie Whiting a passar-se da FIA para a Force India...

O caso é, de facto, complexo e, mesmo que ninguém tenha cometido qualquer ilegalidade, é natural e legítimo que as equipas se sintam defraudadas e desapontadas com a quebra de confiança na sua relação com a FIA. Toto Wolff, director da Mercedes, foi bastante claro nas declarações ao site «Motorsport»: «Desejo o melhor ao Marcin, é um bom tipo. Penso que se ele puder voltar para uma equipa e prosseguir a sua carreira [que já passou pela Prost, McLaren e Ferrari, antes da FIA] não me atravessarei no seu caminho».

«Mas se faz, enquanto dirigente da FIA, as regras e emana directivas técnicas, não se pode negociar com uma equipa e, três meses depois, estar a trabalhar para essa equipa. Há claramente um potencial conflito de interesses. Não estou de forma alguma a dizer que ele tenha abusado, mas deveria haver algum tipo de ética que todos devêssemos seguir. Deveria haver um período de afastamento maior…».

Para já, nenhuma equipa avançou com propostas concretas em relação a qualquer atitude a tomar em relação a Marcin Budkowski. Talvez por não haver qualquer ilegalidade por onde pegar… A não ser que alguém avance, depois da sua entrada em funções, com alguma acusação de espionagem industrial. O que também será difícil de suportar, dado que Budkowski não acedeu a nenhuma informação que não fosse mostrada de livre vontade pelas equipas. Mudar o «modus operandis» da FIA a partir daqui? Enquanto todos os seus funcionários (nomeadamente os outros comissários…) tiverem contratos que se rejam pela lei suíça, não haverá grande coisa a fazer.

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