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Renault revolucionou a Fórmula 1 há exactamente 39 anos!

Estava um dia quente e milhares lotavam as bancadas de Silverstone, como sempre. Para mais, com James Hunt a largar da «pole position», exibindo o seu estatuto de campeão do Mundo de F1. A 16 de Julho de 1977, o G.P. de Silverstone assistia a duas estreias que marcariam a Fórmula 1 para sempre: uma era a do nascimento de um mito, com a primeira prova de um jovem canadiano de 19 anos de nome Gilles Villeneuve, ao volante de um McLaren; a outra, embora naquele dia ainda não se soubesse, seria uma das maiores revoluções tecnológicas da disciplina, o início da «era turbo» na estreia da Renault na Fórmula 1!

O regulamento técnico da F1 há muito que previa a equivalência entre motores atmosféricos de três litros ou turbocomprimidos de 1,5 litros, mas ninguém ligava a estes últimos. A Renault começou a olhá-los com atenção em 1975, ao mesmo tempo que desenvolvia o projecto de Le Mans, embora com um motor turbocomprimido de maior cilindrada.

A competição da Renault contava com oito dezenas de elementos que tinham de se dividir pelo projecto Le Mans, as Fórmula 2 (onde obtinham grandes sucessos) e 3, restando uma quinzena de elementos para avançar com o «laboratório» da F1… Por isso demorou tanto a avançar, com o ano de 1976 dedicado aos primeiros testes, num chassis especificamente construído, o Alpine A500.

A estreia ficou agendada para o G.P. de França de 1977, fazia todo o sentido… E o Renault RS 01 ficou pronto no início de Junho desse ano para três sessões de testes, já com Jean-Pierre Jabouille ao volante, em Paul Ricard, Dijon e Silverstone. Foram feitos dois mil quilómetros satisfatórios mas havia sempre pequeninos problemas que obrigavam a paragens, pelo que foi decidido adiar a estreia para a corrida seguinte, em Inglaterra, marcada para 16 de Julho.

Para Ecclestone, a chegada de um construtor como a Renault era o melhor que podia acontecer à Fórmula 1, de tal forma que arranjou um «salvo conduto» à equipa francesa para a livrar das pré-qualificações, numa altura em que havia… 36 carros para apenas 26 lugares na grelha! Foi também crucial em acalmar as equipas britânicas – aquelas a que Enzo Ferrari chamava os «garagistas»… – que se manifestaram contra a entrada da Renault na Fórmula 1, através das sua associação de então, a F1CA!

A tudo isso a jovem Équipe Renault Elf, liderada pelo ex-piloto Gerard Larrousse, procurava passar ao lado. Tinha apenas um carro, com um chassis feito do zero e o pequeno motor V6 de 1,5 litros com turbo, projectado por François Castaing e Bernard Dudot que debitava cerca de 490 cv. Mas a revolução não se ficava por aqui, pois também a Michelin chegava com os seus pneus de carcaça radial que já preocupavam a Goodyear (fornecedora quase exclusiva da F1) e que viriam também a marcar uma era.

Nos treinos livres o Renault não andou nada bem, o turbo tinha um enorme tempo de resposta que complicava imenso a pilotagem de Jabouille. Talvez por se tratar de um turbo… de camião! Nessa noite foi trocado por um turbo da Garrett e, na qualificação, Jabouille foi 21.º, a 1,6 s da «pole» de Hunt, resultado considerado razoável e dentro das previsões para quem se estreava numa disciplina de que conhecia… nada! E, para mais, com uma tecnologia totalmente nova, apenas já usada em corridas nos Estados Unidos (Indy ou Can-Am) ou nas provas de Resistência.

Para a corrida, Jabouille largou ao lado do Copersucar de Emerson Fittipaldi e até começou bem, ganhando uma posição. Mas à 12.ª volta partiu-se o colector de admissão, o que o obrigou a parar na «box». Ainda voltaria à pista mas, na 32.ª volta, o turbo falhou e o fumo branco fez as equipas britânicas sorrir com alguma sobranceria, logo baptizando o Renault de «yellow tea pot», a chaleira amarela. Nesse ano, a Renault apenas fez mais quatro Grandes Prémios e sempre com vários problemas no motor.

A marca francesa sabia, contudo, que o caminho que percorria era o certo e que seria apenas uma questão de tempo até lá chegar. Com persistência, foi dominando a tecnologia da sobrealimentação por turbocompressor e, menos de dois anos após a estreia, a 1 de Julho de 1979, conseguiu a primeira vitória. Com Jabouille e os pneus Michelin e logo no G.P. de França!

Os que outrora tinham troçado do «yellow tea pot» estavam agora com um enorme sorriso… amarelo! Sintomaticamente, a primeira a perceber que a Renault tinha, de facto, vindo revolucionar a Fórmula 1 foi a Ferrari que se apresentou na época de 1981 já com um motor turbo, seguindo-se a BMW no ano seguinte e, em 1983, a Alfa Romeo, Honda, Porsche (sob designação TAG) e, por fim, a Ford.

Afinal, aquele fumo branco a 16 de Julho de 1977, em Silverstone, apenas servira para indicar o caminho que a Fórmula 1 iria seguir nos anos vindouros, chegando aos espantosos motores de qualificação com 1200 cavalos! Até à proibição dos turbos, decretada pela FIA para a época de 1989, apenas «ressuscitados» em 2014, com as novas mecânicas híbridas. Mas o pioneirismo de introduzir o turbocompressor na F1, esse ninguém pode tirar à Renault!

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